sexta-feira, 9 de maio de 2008

Imagens...(Em ordem de aparição)
Sem Título(série Erotic Woman in Color, 1998, Araki
Leda, 1986, Witkin
Trickie on the Cot, 1979, Goldin
Série C: O Impuro
Em contraste com a estaticidade da beleza e do amor espiritual almejados pela metafísica, o corpo feminino aparece como signo de impureza, pois sua dimensão orgânica é muito mais evidente; a natureza animal humana, significada principalmente pelo sangue, marca sua sexualidade, e na impossibilidade de se conciliar essência e existência, o feminino enquanto conceito e materia se vê legado á margem: numa civilização fundamentada no visualismo, na prioridade do olhar sobre os outros sentidos, apresenta-se como objeto de contemplação, sujeito ao olhar que constantemente tenta contê-lo na medida da idealização. No entanto o contemplar exaspera o fascínio desconsertante e obsessivo daquele que olha. E é então que sente-se a necessidade de torturar, desfigurar, tornar esse corpo aberrante, como que para negá-lo. O violênto se dá como violação do natureza transformada em horror: a abjeção e o grotesco podem ser entendidos como falas poéticas sobre essa separação irremediável entre corpo e alma. Se de um lado o asceticismo elabora sobre imagens idealizadas, as quais assumem o inanimado, o transcendente encontra sua versão hiperbólica em imagens do horrível, que se associam quase sempre a uma idéia de profanação do corpo feminino, nesse argumento se colocam as fotografias dessa última série.
A cromaticidade na imagem de Araki, obtida através da pintura da fotografia PB, em referência às técnicas e á estética da gravura japonesa, cria um tom expressionista, exaltando a figura pálida pela cor encoberta, seu caráter cadavérico: a tinta vermelha alude ao sangue e a tinta de uma maneira geral é aqui traçada de forma a aludir a fluidos corpóreos, numa sensação de intensidade emotional e sexual que contrasta e acentua o PB e a expressão e gestos inertes da mulher deitada.
A Leda de Witkin, personagem mítico de conotação explicidamente sexual, retratado por Leonardo da Vinci(1452-1519), também se apresenta no sentido expressionista da deformação: ao invés da bela jovem nua acalentada pelo cisnei, encontra-se uma figura masculina de completa decadência, e isso se ecoa pelos pequenos corpos caídos no chão e pelos riscos e intervenções quimícas da materialidade da foto (estas também parecem insinuar fluidos corpóreos), algo que Witkin faz exatamente para acentuar essa sensação estética da ruína e putrefação. A plasticidade se dá de maneira um tanto fria, esvaziada da hipérbole erótica, um distanciamento recorrente nas imagens do artista, o que, pode-se argumentar, justifique a figura masculina como a personagem de Leda, alterando o sentido do discurso da lenda original (hiperbato).
Fig.11: Leda e o Cisnei, 1515-1520, Da Vinci
Os tons vermelhos e amarelados assim somo a artificialidade da luz são fundamentos do trabalho de Nan e estão aqui presentes: o fundo e os elementos de cena colaboram para o sentido do exagero, do aberrante e do sujo (kitch). Há um ponto de luz logo acima de sua cabeça, indicando para o rosto que não se vê, o que acentua o artificial da imagem, e da própria mulher que mais parece uma boneca, pelas vestes incomuns, e pela maneira como seu corpo se curva, pernas e braços meio que jogados. É pelo cigarro que pode-se sentí-la proxima e real, na medida em que curva a cabeça para fumar e olha para baixo num gesto de melancolia subentendida.

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